A importância de criar assistentes virtuais sem viés de gênero
As principais assistentes do mercado possuem nomes femininos. Colocar nome de mulheres nesses chatbots levanta um importante problema: da perpetuação em encaixar o sexo feminino em funções de assistente.
Os assistentes virtuais tornam o nosso dia a dia muito mais fácil, isso é inegável. Desde a organização da agenda pessoal, passando pela busca por informações na internet até a marcação de serviços no Poupatempo… e isso é só o começo!
Para se ter uma ideia da presença desses assistentes, de acordo com a Gartner, nos próximos anos a previsão é de que 85% das interações de atenção ao consumidor sejam realizadas por meio de chatbots. Ou seja, estaremos mais e mais em contato com produtos criados a partir de inteligência artificial.
Porém, ao mesmo tempo que a automatização traz benefícios, também cria questões que devem ser discutidas e combatidas. Hoje já se aborda o fato de assistentes virtuais reproduzirem a desigualdade de gênero que vemos na própria sociedade. Recebem o nome de mulheres (Siri da Apple, Alexa da Amazon e Cortana da Microsoft), são “coisificadas” – afinal, estão disponíveis a partir de um clique – e executam funções serviçais, muitas vezes sendo alvo de linguagem vulgar e assédio.
Essas ferramentas são criadas por humanos e, consequentemente, são uma extensão de como interpretamos o mundo. Também não ajuda o fato de que, segundo dados do programa YouthSpark, apenas 25% das funcionários em áreas de TI, no Brasil, são mulheres, impedindo a formação de um ambiente diverso e questionador.
Abaixo explicamos quais os problemas ocasionados e apresentamos recomendações para a criação de assistentes sem viés de gênero.
De que forma os chatbots mantêm estereótipos de gênero?
Como comentamos acima, as principais assistentes do mercado possuem nomes femininos. Colocar nome de mulheres nesses chatbots levanta um importante problema: da perpetuação em encaixar o sexo feminino em funções de assistente.
O paper da Unesco I’d blush if I could: closing gender divides in digital skills through education, que foca na questão de gênero entre assistentes virtuais, explica que o problema das assistentes femininas é que são as mulheres são colocadas nesse papel de ajudantes, dóceis e que querem sempre agradar, respondendo amigavelmente não importa o tom do interlocutor. Muitas vezes, inclusive, recebem uma descrição que perpetua essa imagem, como é o caso da assistente virtual do banco UBank. Chamada Mia, ela é descrita como divertida e empática.
As dicas da Nama para criar assistentes virtuais sem caráter sexista
Linguagem focada em todas e todos
Os assistentes virtuais devem ser configurados para se comunicar segundo uma linguagem sem gênero, ou seja, que não foque no feminino ou no masculino. Há muitas frases e expressões usadas maioritariamente no masculino, para evitá-las basta fazer pequenas adaptações nas respostas. Por exemplo, em vez de escrever no coletivo masculino “nossos funcionários”, optar por termos como “nossa equipe”, fazendo com que mais pessoas se sintam representadas na linguagem.
Sem tempo para ofensas!
Sempre programe os assistentes virtuais para que não respondam passivamente a insultos e mensagens que contenham linguagem abusiva ou de cunho sexual. Frente a algum desses casos, o assistente deve se posicionar com uma resposta informando que a linguagem em questão não é permitida.
Uma voz irreconhecível
No caso de assistentes baseados em voz, não privilegie uma fala masculina ou feminina, ao contrário, tente desenvolver tecnologia que não aspirem por reproduzir o binarismo. Para inspirar-se, vale a pena conhecer o projeto Meet Q., um chatbot de voz sem gênero que foi criado com a ajuda de linguistas e designers de som. Segundo os responsáveis pelo sistema, a tecnologia deve explorar novos caminhos de se comunicar com as pessoas.
Treinamento e mentorias
Ao desenvolver novas soluções aos clientes, é importante que toda a equipe esteja alinhada para criar produtos que não privilegiem um gênero ou outro. Além de treinamentos constantes que incluam a questão da diversidade, vale a pena incentivar a participação da equipe em eventos de mulheres e programas de mentoria com lideranças femininas. Iniciativas como a {reprograma} e a PrograMaria buscam aumentar a participação das mulheres no universo de TI. Envolva-se mais com a causa.
Chance de escolha
Claro, nem sempre será possível criar um assistente virtual com característica humanoide. Porém, para contornar o problema, uma alternativa é dar a oportunidade de escolha ao usuário ao pedir a ele para escolher qual padrão de voz pretende usar em seu assistente, como Siri e Google Assistente já fazem.
Diversidade na equipe
Observe como está composta a equipe de tecnologia que desenvolve assistentes virtuais e outros produtos que focam na criação de inteligências artificial. É imprescindível que cada vez mais mulheres ocupem esses espaços que, além de ser positivo para o resultado final dos produtos – já que promove novos pontos de vista –, também traz benefícios financeiros para a própria empresa. Uma pesquisa da McKinsey comprovou que a diversidade de gênero no ambiente de trabalho gera mais lucros e ajuda a criar valor à empresa.
Como em outros movimentos vistos em outras décadas, a evolução vem acompanhada de mudanças profundas de comportamento na sociedade. E, claro, as empresas também devem se adaptar a essas mudanças se quiserem continuar sendo relevantes, agregar valor à marca e aos serviços e, especialmente, conectar-se com gerações de hoje e de amanhã.